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Sobre obediência, desconforto e essência.

Há um tempo fui jantar com um amigo e seus dois filhos. Ele com seus recém 7 anos, Ela com seus lindos 11 anos. E enquanto aguardávamos a pizza, falávamos sobre o mundo dos jogos, abertos, fechados, pagos, avatares etc. Lembramos dos antigos vídeo games onde aprendemos a jogar, aprendi sobre alguns novos jogos e consoles, e cada um de nós contava quais eram suas preferências e os porquês. Percebi entre olhares extremamente julgadores quando comentei sobre minha paixão por Mario Bross, mas deixei passar para não estragar nossa recente amizade kkk. E de repente ele solta: na verdade eu gosto mesmo de entrar no mundo aberto e me divertir! Não quero completar missão nenhuma, nem fico preocupado com a meta. Só quero entrar lá e me divertir!

BUM! Além de tirar de mim a minha melhor gargalhada, aquilo valeu como um baita soco no estômago.

Quando foi a última vez que eu simplesmente entrei em algo como única e exclusiva função de me divertir? Sem cumprir metas, agendas, sem pensar se estava sendo julgada, avaliada.

Voltando à cena da mesa… imediatamente ela sacode a cabeça da cabeceira da mesa e diz: Não é assim que funciona! As coisas têm objetivos, não dá para ignorar o jogo e fazer o que você quiser. Você não vai chegar a lugar algum assim.

BUM! Gente, e não é que eu faço isso comigo mesma… Ela no auge de sua sabedoria de 11 anos tem toda razão, não vou chegar a lugar algum se não tiver meu objetivo claro, perseguir minhas metas, seguir as regras.

Seria possível viver fora do sistema? É viável desobedecer e ainda assim chegar a algum lugar? 

Ele ainda me olhava sorrindo por ter capturado em minha gargalhada certa aprovação e conivência. Ele insiste: “Não me importa, eu quero me divertir no mundo aberto” se recostando na cadeira confortavelmente.

Nilton Bonder em “A alma imoral” já alertava sobre a existência de uma “desobediência que respeita”. Ou seja, aquela que está em consonância com a própria essência, com a pureza, com a verdade e a vida, acima das leis e regras mundanas para governar corpos sociais. Quais regras eu estou seguindo confortavelmente? Por que há desconforto em seguir as minhas regras? As minhas metas são minhas de verdade ou comprei a ideia de alguém? Você fica assim confortável em seguir suas próprias regras? Em desobedecer ao sistema e ser leal a si mesmo?

Socorro! Quanta sabedoria embarcada naquela grande alma daquele pequeno menino. Quanta maturidade e capacidade de leitura da vida e da realidade crua que havia naquela gigante menina.

Senti que dentro de mim havia um pouco dos dois. Por vezes silencio um e dou voz a outro, enquanto este espera sua vez pacientemente para poder se expressar. Penso que deveria experimentar mais meu lado que quer se divertir, quer ser leal a si. E aquele conforto em ser quem se é, em ser leal ao que se quer… onde eu larguei pelo caminho?

Que eles sigam se apoiando e se divertindo, que nessa dialética, achem algum equilíbrio para alcançar suas próprias metas, no conforto de serem quem são.

Aquele jantar foi um grande presente.

Presente de valor inestimado escondido sob as miudezas da vida.

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