Parte III – Sua vida voltou ao normal pós pandemia? Que pena…
Fico me perguntando como meu pai achava a vida do campo pior do que trabalhar 16h por dia, sem conseguir almoçar direito, sem conseguir pegar sol dentro de escritórios por vezes sem janelas, sendo cobrado por metas inatingíveis e insustentáveis, explorando todos os recursos em seu limite e principalmente às custas de uma mão de obra quase escrava que ainda é culpada por não fazer sua parte para prosperar.
Não estou dizendo aqui que o trabalho rural seja simples, mas tampouco a rotina corporativa é um mar de rosas. Estamos somente trocando os extremos. Estamos vivendo um êxodo urbano daqueles que tem o privilégio de trabalhar remotamente, como eu.
Para além de sair da metrópole para um condomínio de luxo no interior, como podemos nos reconectar com nossa essência, com nossa natureza, com os ciclos da vida de forma regenerativa?
Voltar ao campo é uma oportunidade de se reconectar com os saberes mais profundos da nossa existência. Saber a que custo vem a energia elétrica que nos traz tanto conforto e para onde vai nosso lixo e todas as embalagens desnecessárias da Amazon, cuidar da água e ensinar às crianças a como plantar seu próprio alimento.
As estruturas de aprendizagem às quais nos apoiamos hoje são baseadas no passado. Analisamos históricos para entender padrões e planejamos o futuro a partir daí. Executamos e promovemos ajustes incrementais para melhorar os resultados obtidos, e depois disso, repete. Assim conseguimos êxito muito eficientemente… mais do mesmo.
E se esse passado não é o que queremos repetir? Se é justamente o reflexo da antítese do bem viver?
E se o futuro emergente pudesse oferecer possibilidades impensáveis muito melhores das que temos consciência atualmente? Como podemos despertar como sociedade para ver como vemos e definitivamente parar de correr atrás do rabo a fim de construir um futuro saudável, abundante e confortável ao invés de medicado, escasso, concentrado e luxuoso?
As soluções não virão de um novo app ou do seu curso em uma renomada instituição no exterior sobre tecnologias mirabolantes. Precisamos parar de criar tantas necessidades desnecessárias, de se comparar em uma batalha infinita de melhor post da rede social. Mais uma vez, bebo da fonte da Teoria U de Otto Scharmer para me ajudar a sair do automático e deixar esse futuro verdadeiramente íntegro e próspero me surpreender.
Então, não, minha vida não voltou ao normal pós-pandemia e não poderia estar mais em paz e agradecida por isso. Estou me permitindo não saber o que fazer por enquanto. Não sair como uma máquina fazendo coisas e entregando resultados tão aplaudidos por mais que sejam completamente destrutivos a mim e à sociedade.Aberta para novos aprendizados e relacionamentos que venham da terra e com a terra. Sigo com mais perguntas do que respostas, ávida aprendiz, mas definitivamente, não quero voltar ao normal. Seria medíocre demais. Te convido a fazer o mesmo, se houver coragem, e conseguir agir com o coração…