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Trilogia: Aprendizados da roça

Parte I – Como você sabe o que você sabe? O que você quer aprender a partir de agora?

Um dos melhores livros que li logo no início deste ano foi Lifelong Learners de Conrado Schlochauer por me trazer novas perspectivas sobre as diversas possibilidades de como adquirimos conhecimento. Sua leitura me alertou como que por muitas vezes não valorizamos os saberes informais. Como não nos damos conta dos nossos aprendizados diários que se dão fora de uma sala de aula. Aqueles que não lhe dão um diploma e que não constam no currículo nem sequer consideramos conhecimento. Afinal, na lógica concorrencial da nossa aceleradíssima nova economia, tudo parte de um pressuposto funcional. 

Se não tem função, se não promove algum tipo de retorno, se não leva a um projeto de sucesso, um novo unicórnio e a uma carreira linear ascendente, não presta. Será mesmo?

Outro aspecto fundamental que Conrado trouxe foi a relevância de uma curadoria de qualidade. Enquanto não chegamos a uma conclusão sozinhos, somos inundados por trilhas corporativas de aprendizagem em uma gincana infinita de “finge que eu fiz que eu finjo que você aprendeu” para a matriz global não encher o nosso saco. Comecei a me perguntar sobre o que aprendi ao longo de minha carreira, da minha vida, o que eu sei além do trabalho, como aprendi, e principalmente, o que quero aprender daqui para frente.

O que precisamos saber? Como aprender o que precisamos saber? Quem determina o que devemos aprender?

Há 6 meses decidi entregar meu apartamento em São Paulo. Me mudei para a cidade em que minha família paterna mora, Piraúba-MG, um município com apenas 10 mil habitantes e quase nenhuma infraestrutura. Essa decisão não foi aleatória. Herdei uma propriedade rural do meu pai e à distância se tornava inviável administrá-la.

Foi preciso coragem para parar e aprumar o rumo. Coragem para admitir que eu não queria mais estar disponível full time para outros que não eu. Outros estes que achavam ter direito ao meu tempo e minha vida pelo fato de me pagarem uma quantia em dinheiro.

Pela frente recebia sorridentes falsos incentivos. Pelas costas captava mensagens frequentes como “ela tá perdida coitada, não sabe o que quer da vida” simplesmente por escolher cuidar de mim e definitivamente tomar de volta meu tempo pra mim.

Então absolutamente convicta de que essa era a decisão mais acertada naquele momento, vendi ou doei todos os meus móveis, coloquei o piano, minhas roupas e os cachorros no carro e fui para a roça. Aqui há um grande aprendizado: aprender a ouvir meu coração apesar de todos os motivos racionais terem escapado pelos dedos.

E de frente para aquele mar de morro me dei conta que não sabia se era de comer ou passar no cabeloMe vi completamente ignorante, sem saber por onde começar, sem saber avaliar as mais diversas opiniões que recebia de familiares, funcionários, arrendatários, amigos… Não sabia nada sobre cuidar daquela terra. 

Minha preocupação se resumia a fazer o aceiro a cada período de seca para evitar o fogo, como meu pai me ensinou. E o repertório acabava aí. O que plantar, como plantar, como irrigar, quantas pessoas irão trabalhar para concluir o plantio, em quanto tempo posso colher, como corrigir a erosão que já tomava forma, etc.

Era preciso começar do zero. E por onde começar?

Aplicando a perspectiva da pirâmide de William Glasser, através da leitura é capaz de se reter apenas 10% do conteúdo, 20% quando ouvimos e outros 30% quando vemos. A prática nos leva a até 80% de retenção do conteúdo e sem dúvidas, aprendemos muito mais quando ensinamos, algo em torno de 95% de retenção do conhecimento. Longa estrada meu caro… 

Então eu saí de mentora em gestão de vendas e liderança e tirei a carta “volte à primeira casa” do processo de aprendizagem: leitura e pesquisa de campo básica sobre como cuidar de uma propriedade rural. Bora arregaçar as mangas!

Continua na próxima semana 😉

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