Blog

Manifesto Anti-Liderança: Por coletivos regenerativos

3,1 bilhões de pessoas sofrem de algum tipo de insegurança alimentar no mundo segundo último relatório oficial publicado em 2022 pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO). Segundo a WWF – World Wildlife Fund, em 28 de Julho de 2022 já gastamos todos os recursos que o planeta Terra consegue renovar organicamente ao longo de um ano. Isto significa que para manter nossos padrões de consumo anuais atuais depredamos 1,75 planetas e usurpamos abertamente a possibilidade de uma vida digna às gerações futuras.

Se não bastasse, em 2022 O burnout foi classificado pela Organização Mundial da Saúde como condição de saúde provocada pelo ambiente de trabalho. Segundo a pesquisa da International Stress Management Association Brazil (Isma-BR) estima-se que 32% dos trabalhadores, ou seja, 33 milhões de brasileiros estão completamente esgotados.

Essa realidade não brotou inesperada e aleatoriamente em nossa frente. Isto é sim um eufemismo para as chamadas externalidades negativas de decisões muito bem calculadas, pensadas e deliberadas por nossas lideranças políticas, religiosas, sociais e corporativas. 

As “externalidades” desta liderança e suas respectivas decisões passam pela desigualdade extrema e perda completa de autonomia do viver. Não é essa liderança que eu quero ter e muito menos ser. Não é neste contexto que eu quero viver. Não é nesse contexto que, todos nós, como sociedade, merecemos viver.

Estou farta de lindos quadros comoventes exibindo a missão, visão e valores das corporações pendurados em seus escritórios envidraçados que abrigam líderes indiferentes, irresponsáveis, autoritários, egoístas e pouquíssimo confiáveis. E por que estou falando especialmente da liderança corporativa?

A organização não governamental Global Justice Now publicou uma análise em 2018 das principais entidades econômicas globais ranqueadas por seu faturamento anual. Das duzentas maiores instituições, cento e cinquenta e sete (78,5%) são organizações privadas e as demais são Estados-nação. 

Ou seja, independentemente de sua posição político partidária ou de qualquer que seja o governante que estiver no poder executivo do país, não seria falso dizer que os interesses globais perpassam por interesses de um pequeno grupo privado guiado por um único e simples indexador de performance: o lucro de seus acionistas. 

A liderança atual, seja ela política ou corporativa, está não só preocupada, mas cegamente obcecada em transformar cidadãos em consumidores.

A gente se perdeu feio nessa estrada. Pegamos algum entroncamento errado e viemos parar aqui. Nos primórdios, nos organizávamos socialmente para melhorar nossas vidas e não o contrário. Hoje a produção se justifica em si mesma, e pouco importa se vai melhorar a vida de alguém ou não.

Claro que se utilizam de slogans charmosos, de preocupação com governança e rótulos ESG. Na prática, não nos enganemos. Carecemos de líderes de nós mesmos formando coletivos autônomos, críticos, saudáveis e regenerativos. É urgência se pensar em uma forma de liderar coletivamente e regenerativamente para nossa sobrevivência.

E como podemos fazer isso se estamos despedaçados emocionalmente, cheios de dívidas e compromissos que nos prendem a uma roda de ratos? 

A maioria de nós não quer ou finge não entender as consequências das decisões que seus líderes organizacionais ou públicos estão tomando, se cala ao ver desrespeito e agressões, acredita profundamente que está só fazendo o melhor para si e sua família.

Enquanto isso, alimentamos o sistema por pautarmos nosso conformismo nesses valores efêmeros e supérfluos de que somos o que temos. Então meus caros, coloquem suas máscaras de oxigênio, primeiro em si mesmo, e arregacem as mangas!

Fato é que sempre estivemos no volante, somente nos fizeram acreditar que não estamos. Somos capazes de fazer escolhas diferentes, todo santo dia, desde que acordamos até a hora que colocamos nossa cabeça no travesseiro. Nossas escolhas são reflexo do que valorizamos, quais são nossas prioridades e com o que ou quem nos importamos.

Não é por falta tempo ou dinheiro que seguimos no automático. Seguimos modelos que entendemos serem os corretos, os que vão nos proporcionar aquele tão desejado lugar ao sol. Mas será que sonhar o sonho de um outro alguém viabiliza a sua liberdade e felicidade?

 Dá tempo ainda de voltar e corrigir o trajeto, dá para experimentar um novo caminho e resgatar um antigo jeito de caminhar. Aquele que prioriza a vida, a saúde, os afetos, o equilíbrio. Vamos voltar, devagar e consistentemente e corrigir a trajetória juntos?

Vamos deixar de pensar estratégias que nos motivem a sermos sempre melhores do que os outros para sermos melhores para os outros. 

Vamos achar a intersecção entre as maiores conquistas que já alcançamos até aqui e o menor rastro de destruição possível. Porque somente juntos, em um coletivo regenerativo autônomo e consciente é possível mudar a nossa realidade. Vem comigo?

Mariana de Araújo Carvalho.

Compartilhar

Posts Recentes

Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência. Ao continuar a navegação, você concorda com tal monitoramento.